24 de março de 2009

Quadrilhas Juninas: da dança de salão aos festejos de São JoãoPriscila Santos Silva[1]


A quadrilha junina é uma dança coletiva de origem inglesa, que surgiu por volta dos séculos XIII e XIV. O contato cultural entre a França e a Inglaterra, durante a guerra dos Cem Anos, fez a França adotar a dança, que, levada para os palácios, tornou-se nobre, vindo a espalhar-se por toda a Europa, integrando as festas da nobreza. A quadrilha, dançada em dois ou quatro pares, seguia uma coreografia desenvolvida no compasso de músicas alegres, em allegro ou allegretto (Tinhorão 1990)[2].
A música e a dança da quadrilha chegaram ao Brasil no século XIX, com a Corte Real Portuguesa. Ainda no final do século XIX, a dança de salão, perdendo os ares de nobreza, passa a ser cultivada pelo povo, em áreas livres, rurais e periferias urbanas. Com a popularização, espalha-se por todo o país, figurando principalmente nas festas juninas, e, por sofrer influências regionais, adquire muitas variantes. Em São Paulo, chamam-na Quadrilha Caipira, no Rio de Janeiro, Mana-Chica, na região central do Brasil, é Saruê . Em Sergipe, é conhecida como Quadrilha. (Tinhorão, 1990).
Ao longo dos anos, as quadrilhas sofreram alterações na formação, na dança e no figurino. A mudança é característica da dinâmica cultural, entendida como “processo de reorganização das representações sociais na prática social, representações estas que são simultaneamente condição e produto desta prática” (Durham, 2004)[3]. No início do século XX, as quadrilhas caracterizavam-se pela marcação de passos com termos afrancesados; o vestuário típico representava o povo da roça: as damas usavam vestidos longos, de chita, muito coloridos e cheios de bordados. Os cavaleiros vestiam camisas listradas ou de xadrez, chapéu, lenço no pescoço, calças com remendos e chinelos.

Atualmente, as quadrilhas juninas não apresentam figurinos baseados na imagem do caipira desdentado e maltrapilho; ao contrário, exibem figurinos, maquiagens e cenários exuberantes e vistosos. Também não empregam mais termos como alavantu, anarrie, pois, com o surgimento dos concursos de quadrilhas e do forró, os ritmos xote, xaxado e baião formam a base dos passos inovados com desenhos coreográficos. Divididas em dois grupos, as quadrilhas sergipanas podem ser tradicionais ou estilizadas. As tradicionais apresentam-se geralmente com apenas um destaque, o casal de noivos; os outros componentes caracterizam-se de caipiras: as mulheres usando vestidos de estampas coloridas e renda e os homens calça, camisa e chapéu de palha. Já as quadrilhas estilizadas, nas suas apresentações, teatralizam o tema escolhido, que pode ser fixo ou variável. O cangaço, o sertão e a vaquejada são os assuntos mais explorados. Com um figurino ricamente dourado e brilhante, as quadrilhas tentam retratar seus personagens como verdadeiras fantasias.
Dança-se quadrilha em vários estados brasileiros. Apesar dos elementos comuns, cada uma apresenta especificidades no repertório gestual, coreográfico e estético. As quadrilhas sergipanas, por exemplo, caracterizam-se pelo balanço dos ombros, pelo movimento ondulado das saias, pelos babados e pela marcação forte dos passos, que geram um grande e belo espetáculo dos festejos juninos. Elas surgiram na década de cinqüenta, tendo ocorrido o primeiro concurso no ano de 1955, na Rua São João, com a participação de seis quadrilhas juninas (Alencar, 1990)[4].
Um número significativo quadrilhas sergipanas, cerca de 50 , é filiado à Liquajuse – Liga de Diretores e marcadores de quadrilhas juninas do Estado de Sergipe. A Século XX é a mais antiga do estado, com 53 anos de existência. Algumas começam a ensaiar logo após o carnaval. Outras iniciam os preparos para o ano seguinte tão logo termine a temporada junina. Cada quadrilha tem, em média, 40 componentes, mas algumas chegam a contar com até 80 integrantes[5].
Não há espaço para o improviso: algumas possuem sede própria, estatuto, diretoria, e quase todas contratam costureiras, músicos e figurinistas. Os bastidores da quadrilha junina, assim como suas apresentações públicas, são ricos em significados. Os ensaios proporcionam aos seus componentes momentos de lazer e sociabilidade, mas também de aperfeiçoamento para os concursos, uma vez que o alvo é a vitória. Enfim, a rotina de trabalho da quadrilha, embora longa e exaustiva, rende prazer e orgulho ao grupo que a ela se dedica.

Notas:
[1] Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe.
[2] TINHORÃO, José Ramos. Quadrilha: Dos salões às festas juninas. Disponível on-line via www em: http://www.cliquemusic.uol.com.br/. Capturado em 5 de janeiro de 2007.
[3] DURAN, Eunice. A dinâmica cultural na sociedade moderna. In: A dinâmica da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
[4] ALENCAR, Aglaé D’Ávila Fontes de. Rua São João – uma história viva na memória cultural de Sergipe. In: São João é coisa nossa. Aracaju. FUNDESC: J: Andrade, 1990. (série memória v.II).
[5] Informações do trabalho de campo da monografia intitulado “A Rua da Festa: Ritual, Festa e Performance na Rua São João” de Priscila Silva.

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