18 de setembro de 2009

Anipólitan 2009

Eliseu Ramos

Nos dias 01 e 02 de agosto de 2009 foi realizada, em Salvador, a sexta edição do Anipólitan, principal evento anual de cultura pop oriental na Bahia. Tudo começou em setembro de 2003 com Ricardo Nascimento Silva, que sonhava em criar um festival para os fãs de desenhos animados japoneses, assim como ele. Para concretizar esse sonho ele decidiu criar um grupo que denominou ANIPÓLITAN (a denominação partiu de uma mistura de Animes + Soteropolitanos). Esta equipe tornou-se responsável pela organização e administração deste evento que leva o mesmo nome e também pela divulgação da cultura nipônica em todo o Estado.
Este ano a sede do festival foi o Colégio Dom Bosco e registrou a presença de 2.000 participantes. O evento contou com a seguinte infra-estrutura: na quadra poliesportiva foi montado um palco onde aconteciam os shows; no ginásio coberto, a praça de alimentação; havia também uma sala de jogos, salas de exibição de desenhos animados e de música japonesa, um ambiente reservado para determinados jogos de cartas, oficinas de papercraft (método de construção de objetos tridimensionais a partir de papel), além de 29 stands de vendas dos mais variados produtos, desde camisas, bonecos, DVDs, até fantasias para cosplay. O evento contou também com diversas atrações artísticas, incluindo grupos de dança, artes marciais, e a presença do cantor japonês Ayumi Miazaki.



Show de Ayumi Miazaki



Estandes de vendas.

O Anipólitan possui uma peculiaridade em relação às outras convenções: certa vez numa edição anterior, um grupo de cosplayers que se apresentaram brincando com o filme “Tropa de Elite” combinado a um desenho animado, fizeram tanto sucesso que a organização do evento resolveu institucionalizá-lo dando origem ao Teatro Cosplay, que a cada ano traz novas peças para o público, que por sua vez, aguarda ansiosamente pela performance desse grupo conhecido como “Ambu de Elite”.



Apresentação do Ambu de Elite.

O concurso dos cosplayers no Anipólitan foi classificado em cinco categorias:
-Desfile: Os participantes desfilam no palco para exibir suas fantasias, aqui o que conta é a fidelidade da vestimenta.
-Tradicional individual: O cosplayer usa de todos os seus dons de interpretação para incorporar o personagem interpretado, o tempo limite é de apenas dois minutos de apresentação.
-Tradicional grupo: A equipe de cosplayers ensaia uma cena para ser reproduzida no palco, o tempo limite é estendido para seis minutos.
- Livre Individual e Livre Grupo: durante a apresentação a criatividade é o principal fator de julgamento; os participantes costumam parodiar,caricaturar seu próprio personagem.
As premiações desse ano foram desde camisas do próprio evento, coleções de revistas em quadrinhos a vídeo-games de última geração.


Ganhadora do concurso tradicional individual

25 de junho de 2009

Gente que brilha: quadrilhas e quadrilheiros de Sergipe

Eufrázia Cristina Menezes Santos (Professora do departamento de Ciências Sociais da UFS)

Desde a sua introdução no Brasil, no final do século XIX, até os dias atuais, as quadrilhas sempre se reinventaram, operando mudanças tanto nas formas como nos significados. Esse movimento de recriação atribuiu novos conteúdos a antigas formas e novas formas a antigos conteúdos, além de ter ampliado surpreendentemente, ano após ano, o repertório gestual, musical e simbólico destes grupos. As quadrilhas da região Nordeste, à medida que acompanhavam o processo de modernização das festas juninas, foram paulatinamente perdendo suas características de baile rural, de dança comunitária, enquanto adquiriam uma dimensão mais espetacular. O processo, contudo, não foi universal, visto que a celebração dos festejos juninos enseja a formação de vários tipos de quadrilhas com perfis diferenciados:quadrilhas escolares, de família, de vizinhos, de amigos, que vivenciam e se inserem na mesma festa com interesses e motivações os mais diversos.



A promoção de concursos de quadrilhas tem contribuído para afirmar essa dimensão de espetáculo, criando um formato de quadrilha mais urbana, competitiva e estilizada, voltada para a conquista de títulos e prêmios. Esse modelo estimula a formação de grandes plateias (verdadeiras “torcidas organizadas” com seus efusivos “gritos de guerra”), que lotam ginásios de esporte, arenas e outros espaços públicos durante a realização de competições locais, regionais ou nacionais. Em Aracaju, o primeiro concurso de quadrilha ocorreu em 1955, na Rua de São João, reunindo quadrilhas organizadas por moradores dos bairros populares da cidade.
Ao longo desses 54 anos, foram surgindo novos concursos, cuja dinâmica passou a ser capitaneada ou patrocinada por órgãos públicos (Secretaria de Turismo, Emsetur, Funcaju) e empresas particulares (Rede de Supermercados, Shoppings). Algumas dessas competições obtiveram o reconhecimento da população local, a exemplo do tradicional concurso de quadrilhas juninas da Rua São João, do Centro de Criatividade, do Shopping Riomar, do Centro Cultural Gonzagão e, mais recentemente, o Levanta Poeira, promovido pela Rede Globo Nordeste, desde 2006.


As quadrilhas vencedoras dos concursos realizados regional e nacionalmente acabam ganhando maior visibilidade e prestígio, fundamentais para obter o patrocínio das empresas, que, obviamente, procuram associar sua marca às quadrilhas preferidas da população local. Dentre outros, estes dois fatores causam a alta rotatividade dos participantes nos grupos. Ora, uma vez que o vínculo comunitário que havia na origem das quadrilhas de bairro deixa de ser o fator essencial da permanência de um membro em uma quadrilha, outras razões acabam definindo a renovação dos quadros: o desejo de integrar um grupo que goza de mais sucesso na cidade, de ter uma agenda lotada de apresentação em eventos dentro e fora do Estado, de exibir os melhores trajes, etc. As quadrilhas urbanas tornaram-se um empreendimento artístico-cultural cuja atuação não se restringe mais ao ciclo junino.


Mediante contratos, acordos ou recebimento de algum tipo de subsídio, elas realizam apresentações públicas ao longo do ano, em feiras e salões de turismo, em shoppings, condomínios, clubes, etc. Esse processo de modernização e espetacularização dos grupos de quadrilhas não é, todavia, um caso isolado, pois se integra à formação de um mercado cultural que alimenta e serve de mola propulsora para as indústrias do turismo e do entretenimento. Na região Nordeste, as apresentações públicas das quadrilhas em feiras, “forródromos”, centros históricos e arraiais públicos integram a programação oficial da festa como uma das principais “atrações” do “espetáculo junino” oferecidas aos turistas.

Os grupos de quadrilha, a exemplo do outras manifestações culturais, estabeleceram diálogos, efetuaram trocas com o Estado, com a mídia e com órgãos de turismo. Se, por um lado, é verdade que esses grupos conseguiram se reinventar, com as ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias e pela mídia, de conquistar visibilidade e afirmar identidades locais e regionais, por outro, eles também tiveram que se amoldar às demandas do mercado de bens culturais, sem conseguirem, contudo, obter o mesmo poder de barganha na hora de assinar contratos, estabelecer acordos, ou até mesmo auferir qualquer tipo de lucro.

No caso das quadrilhas de nossa cidade, muitas atingiram um nível de organização que, em alguns casos, indica uma crescente profissionalização. A sua estrutura compreende, além de uma diretoria, uma divisão de tarefas e a contratação de especialistas como coreógrafos, estilistas, costureiras e músicos. Elas abandonaram o amadorismo, e se institucionalizaram sob a forma de Centros, Grêmios ou Associações Culturais, passando a oferecer aos seus integrantes, durante todo o ano, atividades tais como: oficinas de dança, de música, capoeira, teatro, etc. Sem dúvida, atualmente as quadrilhas têm uma importância social e cultural relevante na vida de inúmeros jovens de nossa cidade, pois elevam a sua auto-estima com a dança, a música e o teatro, além de proporcionarem atividades lúdicas e de lazer que os afastam da ociosidade e das drogas.

Estima-se que, correntemente, existam mais de 700 grupos de quadrilhas com algum tipo de registro em cartório, seja federação ou confederação de quadrilhas. Em Aracaju, 45 quadrilhas são filiadas à LIQUAJUSE (Liga de Quadrilhas Juninas de Sergipe), segundo informação fornecida pela entidade, número que revela uma significativa diminuição em comparação com o registrado nos anos 80 e 90, respectivamente 135 e 109. Resta-nos indagar as razões dessa redução. Hoje em dia, o custo da produção de uma quadrilha representa um dos fatores responsáveis pelo desaparecimento de vários grupos, ou pela sua ausência temporária dos concursos públicos. A quadrilha estilizada, cara, tornou-se o padrão de vários concursos, alijando da competição, consequentemente, os grupos que não conseguem acompanhar o modelo midiático e espetacular.



Os quadrilheiros reclamam da ausência de uma política contínua de incentivo por parte dos governos estadual e municipal, e alegam que, em geral, os subsídios aparecem somente no período junino. Para cobrirem as despesas, os quadrilheiros, além de recorrerem à ajuda do Governo, realizam feijoadas, bingos, pedágios, almoços, e buscam o apoio de políticos e de patrocinadores. Segundo os grupos de quadrilhas, o repasse, em algumas gestões, é insuficiente para a compra dos trajes típicos, acessórios, transporte, alimentação e pagamento dos músicos. A despeito da falta de incentivo, a história dos festejos juninos registra a presença de quadrilhas existentes há mais de trinta anos. A Liga também dispõe de dados sobre a geografia do São João em nosso Estado e mostra a distribuição de grupos de quadrilhas com registro em outros municípios: Tobias Barreto, São Cristóvão, Japaratuba, Carmópolis, Indiaroba, Rosário do Catete, Frei Paulo, Estância, Poço Verde, Barra dos Coqueiros, Laranjeiras, Maruim, Itaporanga, Neópolis, Socorro, Santo Amaro, São Francisco.

Nos últimos anos, dois fenômenos têm suscitado muitas controvérsias entre os que acusam as quadrilhas de estarem se descaracterizando ou abandonando as tradições: a carnavalização e a teatralização que marcariam, hoje, suas exibições públicas. Os acusadores esquecem que estamos nos referindo a duas das mais antigas linguagens, historicamente requeridas pelos segmentos populares e pela elite para criar realidades outras que rompem com o cotidiano e estimulam a vivência de performances culturais. Outro aspecto a lembrar são as múltiplas trocas, circulação ou apropriações de práticas e símbolos que se processam entre diferentes manifestações culturais. Assim, por exemplo, é possível encontrar elementos do candomblé na capoeira, da congada no maracatu, etc. Ou seja, o mecanismo de criação popular envolve hibridização cultural.



 Nesse processo de transformação das quadrilhas juninas, a carnavalização significaria a adoção de elementos característicos dos desfiles das escolas de samba carioca: a introdução do tema da quadrilha, que equivaleria ao samba enredo; a divisão das quadrilhas em grupo especial, primeiro e segundo grupos; introdução de alegorias e cenários móveis e do quesito evolução, característico dos desfiles carnavalescos, como um dos critérios de julgamentos. A segmentação das quadrilhas em grupo especial, primeiro e segundo grupos visa estabelecer diferentes níveis de competição baseados nas diferenças entre elas. Integrar o grupo especial ou nele permanecer exige classificação nos primeiros lugares, o que leva as quadrilhas a dialogarem constantemente com os contextos em busca de novidade, modismos, novos hits, efeitos especiais (por exemplo, telão, gelo seco) e coreografias inéditas.



As quadrilhas também possuem destaques, diferenciados dos demais participantes por ostentarem indumentárias mais luxuosas, e escolhidos entre os personagens mais tradicionais, como os noivos, a rainha e o rei do milho ou o casal lampião e Maria Bonita. Anualmente, os destaques podem mudar, conforme variem os personagens (por exemplo, príncipes, sinhazinhas, curisco, etc.) do tema escolhido. Este em geral remete a figuras emblemáticas, a exemplo de Padre Cícero e Luiz Gonzaga; a símbolos, valores e tipos sociais do sertão ou da zona rural nordestina, como a caatinga, a seca, o vaqueiro, o sertanejo; a temas religiosos ou do imaginário popular, como a fama de Santo Antônio de santo casamenteiro ou a chegada do bando de lampião nas pequenas cidades do interior, etc. O tema define o cenário, o modelo das vestimentas, os destaques, os ornamentos, a coreografia e o repertório musical e gestual. Na década de 70, com a espetacularização das escolas de samba, o aspecto visual usurpou a primazia do samba enredo.
Ao que parece, esse mesmo fenômeno tem atingido as quadrilhas juninas nos últimos anos. Hoje, o visual, a estética – que se materializam nos cenários, ornamentos, efeitos especiais, vestuário – importam tanto quanto a dança, ou talvez mais. O traje caipira, emblemático das festas juninas enquanto “festa de interior”, foi submetido a uma releitura por parte de alguns grupos de quadrilhas, que agora o apresentam em versões urbanas e esteticamente elaboradas.

O antigo estereótipo do nordestino feio, pobre, maltrapilho, desengonçado e com dentição precária, perdeu espaço para representações contemporâneas do nordestino que mora em zonas urbanas e compartilha dos avanços da modernidade. Além disso, as velhas camisas quadriculadas e os vestidos de chita foram substituídos por tecidos mais nobres, decorados com lantejoulas, canutilhos e outros elementos brilhantes utilizados na confecção das roupas de homens e mulheres. Esse quadro mais amplo nos permite dispor as quadrilhas em duas vertentes: a primeira, formada pelos grupos reféns de narrativas e imagens representativas do nordeste e do nordestino a partir do sertão, da seca, da miséria, do cangaço, do banditismo, da violência, reafirma a posição marginal dos nordestinos na cultura nacional. Na segunda, por outro lado, encontram-se as quadrilhas que instituem novas representações e ajudam a criar, por meio da arte, novas imagens do Nordeste.

As quadrilhas, por assim dizer, se transformaram em operetas, conseguindo combinar a expressividade e poder de comunicação da dança e da música com o teatro. Essa mistura, somada à alegria e à criatividade dos quadrilheiros, tem sido, certamente, fator decisivo para colocá-las entre as principais atrações do ciclo junino. O seu aspecto teatral evidencia-se na encenação do casamento caipira, que vem ganhando cada vez mais espaço nas apresentações públicas. Por meio desse teatro popular, poderosa ferramenta de crítica social, temas e valores como casamento, virgindade, poder, autoridade, etc., são criticados com irreverência e deboche, com a participação do público, que interage com os personagens-chave desse drama ritual. O teatro criado pelas quadrilhas ajuda a reinventar o imaginário das festas juninas, por meio do enfoque dado a crenças, símbolos culinários, personagens e valores. O fato é que as quadrilhas hoje representam uma forma de cultura popular, com elementos de reconhecimento e identificação aos quais as pessoas respondem. A tradição, que está longe de significar aprisionamento ou persistência de velhas formas, diz respeito a maneiras de associação e articulação de elementos e linguagens.

Resta muito a dizer sobre as quadrilhas, e, ao mesmo tempo, a ouvir o que têm a nos dizer em suas performances. Assim é que poderemos compreender a emoção dos quadrilheiros quando cantam a plenos pulmões:

“Na minha quadrilha só tem gente que brilha.
Só tem gente que brilha em minha quadrilha”.

Publicada: 24/06/2009 no Jornal da Cidade
Dísponível no site: http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=358

Forrócaju 2009 - Reportagens especiais

Socióloga pesquisa evolução do Forrócaju
Informações foram coletadas em entrevistas, reportagens, materiais publicitários e fotos


Por Priscila Viana (estagiária)


A origem, as danças, a dinâmica cultural e a evolução do Forró Caju são o foco de uma pesquisa realizada pela socióloga licenciada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Vanessa Garcez. Desde 2006, na época da graduação, ela estuda os aspectos da festa mais popular de Sergipe e coleta informações através de entrevistas, levantamento histórico de reportagens, materiais publicitários e fotos. Atualmente, o tema está sendo aprofundado na monografia de conclusão do curso de bacharelado em ciências sociais.

O São João de Aracaju despertou seu interesse quando ainda era estudante, por meio da orientadora, a antropóloga Eufrázia Cristina Menezes, do Departamento de Ciências Sociais da UFS. "Em 2006, Eufrázia me chamou para pesquisar com ela os festejos juninos em Aracaju. As atividades foram divididas entre Priscila Santos Silva, minha companheira de estudos, e eu. Por meio do Programa de Iniciação Científica [Pibic], eu comecei a pesquisar o Forró Caju e ela, a rua de São João", explica Vanessa.

A primeira pesquisa, feita em 2006, consistiu numa etnografia sobre a participação do público e a comunicação do corpo durante o evento junino. "No primeiro momento, estudamos as performances culturais que ocorriam no Forró Caju, trabalhando com a questão antropológica. É interessante ver como os diferentes grupos sociais se inserem na mesma festa", revela.

Os estudos logo resultaram na criação do grupo de pesquisa ‘Ritual, Festas e Performance', coordenado pela professora Eufrázia. "Foi a partir desse grupo de pesquisa que eu fiz o recorte para a monografia. Continuei com os estudos sobre o Forró Caju, só que com outro foco", conta a socióloga.


Pesquisa


No primeiro capítulo de sua monografia, Vanessa aborda a história do Forró Caju e os elementos que foram incluídos no evento ao longo das edições. A comemoração oficial surgiu em 1993, mas, segundo a pesquisadora, o embrião da festa já se desenvolvia alguns anos antes. "Encontrei várias referências indicando que a festa foi criada no ano de 1986, mas com o nome de ‘Arraiá do Povo'. Na época, a prefeitura montava vários arraiais espalhados pelos bairros da cidade", relata.


Segundo os estudos, em 1993 os festejos ainda eram comemorados de forma pouco centralizada e o evento não tinha o porte de hoje. "No início, a festa só tinha o palco normal e tudo era muito focado na apresentação de quadrilhas juninas, cantores locais e grupos regionais. Mas já existia a presença de alguns cantores de renome nacional, como Elba Ramalho, por exemplo", explica.


À medida que foi recebendo novos elementos, o então ‘Arraiá do Povo' mudou de feição e migrou para outros locais. Em 1994, a festa aconteceu em dois espaços diferentes: na praça Fausto Cardoso e no Parque da Sementeira, onde foi realizado o Fest Country Forró Caju, na tentativa de agregar a essência das festas country com atividades como o hipismo, por exemplo. "Mas não deu certo", lembra Vanessa.
"Em 1996, a administração municipal potencializou o evento e criou um arraial maior, na praça Fausto Cardoso. Já em 2000, a festa começa a ter um formato diferenciado e migra para a região dos mercados", complementa. No entanto, a socióloga Vanessa explica que o Forró Caju ganhou proporções mais destacadas somente em 2001.


Novos elementos


Com novo formato, a festa conquista mais status, atrai turistas de diversas partes do país e se transforma no evento mais popular da cidade. "Em 2001, novos elementos são agregados ao Forró Caju, como a Marinete do Forró, o Fórum do Forró e exposições fotográficas, entre outros. Constitui-se, então, um grande empreendimento turístico e econômico", explica.


Com o levantamento histórico, as entrevistas e a análise de material publicitário, Vanessa explica, em sua pesquisa, as diversas adaptações ao contexto político, econômico e social em que a festa se realiza, desde o início. "Em muitos momentos, a orientação do evento vai dialogando com os contextos específicos de cada época. Em 2000, o tema foi ‘Eu Amo Aracaju', que pertencia à prefeitura da época. No ano seguinte foi ‘Eita chamego bom'", afirma.


Mas, de acordo com a pesquisadora, o mote mais famoso viria dois anos depois. "Em 2002, o tema foi ‘Uma festa para todos', que se repetiu em 2004. Em 2005, na comemoração dos 150 anos de Aracaju, o nome foi ‘Essa festa vai ficar para a história'; e no ano seguinte, com a Copa do Mundo, ‘Essa festa é campeã'. Então, sempre existiu uma relação entre a festa e a situação histórica da cidade", explica.


Disponível no site - http://www.aracaju.se.gov.br/forrocaju/index.php?act=noticia&codigo=38169
Fonte: Agência Aracaju de Notícias

24 de março de 2009

Notas etnográficas sobre a 25ª lavagem da Conceição: cortejo e ritual
Vanessa Barreto Vasconcelos Garcez[1


O dia 8 de dezembro é marcado pelo sincretismo religioso na cidade de Aracaju, a data é rememorada anualmente por diferentes rituais festivos espalhados em algumas regiões da capital sergipana. Este dia é dedicado no calendário litúrgico católico a Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Aracaju; a santa representa bondade e pureza da Virgem Maria para os fiéis católicos. No sincretismo afro-católico Nossa Senhora da Conceição é sincretizada com o orixá Oxum. O orixá feminino Oxum é o símbolo da riqueza e da vaidade, representando também fertilidade e fecundidade para os adeptos das religiões afro-brasileiras.
Dentro das comemorações, cinco manifestações ritualísticas integram a programação da festa: a missa católica; o cortejo Afro; lavagem das escadarias da Catedral metropolitana; procissão católica; desfile do afoxé na Praia de Atalaia. A proposta deste texto é apresentar uma breve etnografia do cortejo afro e do ritual da lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana de Aracaju por representantes de alguns terreiros de Sergipe.
A lavagem da Conceição completou 25 anos de existência no dia 08 de dezembro de 2007. A lavagem é precedida por um cortejo afro que se forma com esse objetivo. A concentração dos organizadores e integrantes de alguns terreiros de Sergipe ocorre na Colina do Santo Antônio, localizada no bairro que recebe o mesmo nome do santo. Toda uma preparação ritual acontece antes do cortejo, o Andor de Nossa Senhora da Conceição é ornamentado com flores brancas e amarelas, cores-símbolo do orixá homenageado; há a distribuição de jarras com flores e água de cheiro que serão utilizadas na lavagem das escadarias da catedral. Ao longo desses anos a Ialorixá Maria Angélica de Oliveira esteve à frente da organização deste evento.
A saída do cortejo é anunciada através de fogos aproximadamente às 10h25min da manhã, e percorre o seguinte roteiro: colina do bairro Santo Antônio; Rua João Ribeiro; Rua Simeão Sobral, Avenida Rio Branco e Ivo do Prado, passando pela Praça Fausto Cardoso e chegando ao destino final, que é a Praça Teófilo Dantas, local onde se encontra a Catedral Metropolitana de Aracaju. No início do cortejo são distribuídas bandeirinhas com a imagem de Oxum, agitadas com alegria pelos integrantes do cortejo. A representação visual do Orixá ganha visibilidade; a curiosidade e o medo que envolvem as divindades afro-brasileiras, são por algumas horas colocadas em suspensão reconhecendo-se neste contexto ritualístico seus significados religioso e estético ( Santos, 2006) . Durante todo o percurso outras pessoas isoladamente ou em grupos somam-se ao cortejo.
Quadrilhas Juninas: da dança de salão aos festejos de São JoãoPriscila Santos Silva[1]


A quadrilha junina é uma dança coletiva de origem inglesa, que surgiu por volta dos séculos XIII e XIV. O contato cultural entre a França e a Inglaterra, durante a guerra dos Cem Anos, fez a França adotar a dança, que, levada para os palácios, tornou-se nobre, vindo a espalhar-se por toda a Europa, integrando as festas da nobreza. A quadrilha, dançada em dois ou quatro pares, seguia uma coreografia desenvolvida no compasso de músicas alegres, em allegro ou allegretto (Tinhorão 1990)[2].
A música e a dança da quadrilha chegaram ao Brasil no século XIX, com a Corte Real Portuguesa. Ainda no final do século XIX, a dança de salão, perdendo os ares de nobreza, passa a ser cultivada pelo povo, em áreas livres, rurais e periferias urbanas. Com a popularização, espalha-se por todo o país, figurando principalmente nas festas juninas, e, por sofrer influências regionais, adquire muitas variantes. Em São Paulo, chamam-na Quadrilha Caipira, no Rio de Janeiro, Mana-Chica, na região central do Brasil, é Saruê . Em Sergipe, é conhecida como Quadrilha. (Tinhorão, 1990).
Ao longo dos anos, as quadrilhas sofreram alterações na formação, na dança e no figurino. A mudança é característica da dinâmica cultural, entendida como “processo de reorganização das representações sociais na prática social, representações estas que são simultaneamente condição e produto desta prática” (Durham, 2004)[3]. No início do século XX, as quadrilhas caracterizavam-se pela marcação de passos com termos afrancesados; o vestuário típico representava o povo da roça: as damas usavam vestidos longos, de chita, muito coloridos e cheios de bordados. Os cavaleiros vestiam camisas listradas ou de xadrez, chapéu, lenço no pescoço, calças com remendos e chinelos.
Casamento do tabaréu na Rua São JoãoPriscila Santos Silva[1]


O casamento caipira é um dos rituais festivos que integram as atividades do ciclo junino da Rua São João, desde a época da presidência de Mestre Calazans. Ele também está presente em várias atividades festivas da cidade, encenadas em outros arraiais, a exemplo do Arraial do Arranca Unha, organizado no Centro de Criatividade “João Alves Filho”, localizado no bairro Getúlio Vargas. O casamento caipira é tão importante nas comemorações aracajuanas, que integrou as festividades alusivas aos cem anos de Aracaju, noticiada pelo Sergipe Jornal em junho de 1955.
Embora a encenação do casamento junino receba denominações variadas – casamento do tabaréu, casamento do matuto, casamento da viúva e casamento da roça – ele possui unidade e remete sempre a uma forma tradicional de teatro popular, irreverente, irônico e satírico, encenado por um pequeno grupo de pessoas representando personagens fixos (como o noivo, a noiva, o padre ou o juiz) ou variáveis, dependentes do texto em que se inserem (como policiais ou pais da noiva). O que varia é o contexto cultural: o rapaz sendo obrigado a casar por ter “desonrado” a família, desvirginando a moça, ato que poderá resultar em gravidez; ou a viúva ou a solteirona suplicando um marido ao santo casamenteiro.
Na Rua São João, a encenação do casamento caipira geralmente ocorre na tarde do dia de São João, quando moradores de todas as idades do Santo Antônio e demais bairros da capital tomam conta da Rua São João com alegria e descontração. Os festeiros, que se paramentam para o evento ainda em casa, são ‘lampiões’, ‘cangaceiros’, ‘vaqueiros’, que, em seus cavalos ou carroças, concentram-se no Largo Calazans, antes de percorrerem as ruas da cidade na celebração de mais um ritual junino, o casamento caipira.
A rua fica repleta de carroças enfeitadas, em 2006, o Centro Social e Cultural São João de Deus alugou cerca de vinte carroças, outras e alguns cavalos foram alugados pelos próprios moradores do bairro. A essas, somaram-se as trazidas pelos próprios carroceiros vindos de outros bairros para participar da brincadeira. Os moradores da Rua São João participam do cortejo em carroças, cavalos, carros e até caminhão.
Durante o cortejo na Rua São João, o casal de noivos é acompanhado por um carro de som; passam pela Rua Muribeca, avançam pela Japaratuba, daí ganhando as ruas da cidade (planejadas no formato de um tabuleiro de xadrez). O formato em linhas retas das ruas de Aracaju cria quarteirões simétricos, inspirados no tabuleiro de xadrez, que proporciona aos festejos um espaço para a realização da festa e do jogo. O jogo do cortejo não possui nenhuma rainha, bispo ou torres, apenas o cavalo, o elemento mais numeroso da brincadeira. A vitória, por seu turno, não consiste em dar o xeque-mate, mas em encontrar os noivos, que conduzem seu cortejo no descontraído passeio pela cidade.
Depois de percorrer os bairros Santo Antônio, Industrial e o centro da cidade, o cortejo do casamento do matuto chega à Rua São João. Todo o texto é improvisado. A platéia também participa da festa. As crianças, sentadas na extremidade do palanque, fazem silêncio e acompanham toda a encenação. Os adultos, também prestando muita atenção, ficam ao redor do palco. Em nenhum momento é necessário pedir silêncio ao público (mais um personagem do casamento do matuto), que sabe muito bem o seu papel e, por isso, durante a encenação, porta-se como convidado da festa, e no momento em que o noivo recusa casar-se, o público entra em cena e diz: Vai ter que casar! Vai ter que casar!
A comunidade se reúne na Rua São João para viver a festa do cortejo e do casamento caipira, momento de especial alegria, de afirmação de identidade e de produção de vínculos sociais. A festa envolve a participação coletiva de um grupo, interrompe o tempo social e articula-se em torno de um objeto que canaliza todos os focos e produz uma identidade. (Guarinello, 2001[2]).
As festas populares criam momentos de inversão social, de oportunidade para reverter momentaneamente a ordem das coisas. A festa outorga ao indivíduo liberdade para romper com as normas sociais, proporcionando-lhe um espaço aberto à realização de fantasias, de liberdade para escolher o papel que deseja desempenhar. Não obstante a ampla capacidade conferida ao individuo de escolher seu papel ou inverter a sua fachada pessoal, a festa também traça fronteiras; ela não iguala a todos, mas, antes, une os diferentes. (Guarinello, 2001).



Notas:
[1] Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe.
[2] GUARINELLO, Norberto Luiz. Festa, trabalho e cotidiano. In: Cultura e sociabilidade na América portuguesa. Organizadores: István Jancsó e Íris Kantor. São Paulo: Edusp, 2001.
Festival de jegue de Itabi: cotidiano, festa e lazer
Beatriz Resende


A festa tem o poder de modificar a rotina de uma cidade, mais que isso ela reflete o que a sociedade pensa de si mesma. Esse sentido se aplica a pacata cidade de Itabi/SE, na qual o Festival do jegue, tida como sua principal festa, tem força suficiente para modificar a rotina dos habitantes do município, principalmente durante o mês de setembro no qual acontece a festa.
O jegue é um animal presente no cotidiano itabiense, ligado ao mundo do trabalho, convivendo este com a evolução da cidade, assim como foi em tantas outras cidades nordestinas. De acordo com o dicionário Houaiss o jumento é um mamífero perissodátilo pertencente à família dos eqüídeos. Como animal doméstico é usado para trabalhos diversos. No nordeste brasileiro é considerado símbolo de força e resistência.
Como o passar dos anos o animal foi perdendo espaço com a introdução da tecnologia no mundo rural, e aos poucos foi sendo substituído pelas motocicletas, por exemplo. O jegue perdeu seu valor no mercado e sua função social chegando a custar em alguns lugares, apenas um real, isso quando não são abandonados nas estradas ficando a própria sorte. Na década de 1970 a carne do animal passou a ser exportada para consumo em paises como Japão e Bélgica.
Eis que em julho de 1979, o Festival de jegue de Itabi teve sua primeira edição. Durante os três dias de festival, o animal presente no cotidiano itabiense, torna-se uma estrela, transforma-se em objeto focal, funcionando como pólo de agregação da população e símbolo de identidade local (Guarinello,2001).
O município Itabi teve sua emancipação política decretada em 25 de novembro de 1953 e hoje possui cerca de 5.000 habitantes. É uma cidade jovem com 54 anos de emancipação e quase trinta anos de Festival do jegue, cabe aqui observar que a festa tem mais da metade da idade da cidade. Sendo assim a identificação entre cidade e festa é extremamente pertinente. Ao ponto da cidade ser reconhecida em todo estado e até mesmo fora dele como “Terra do jegue”.
Festa das Cabacinhas
Eliseu Ramos

A festa da cabacinha acontece tradicionalmente na primeira semana do mês de janeiro, em varias cidades do Estado de Sergipe. Uma das mais tradicionais realiza-se em Japaratuba durante as Festas de Reis e São Benedito. A cabacinha faz parte da cultura local e se transformou em um ícone da cidade. Durante os dias de festa todos estão sujeitos a ser atingidos por cabacinhas ao transitar pelas suas ruas, criando um clima de brincadeira entre todos. A sincronia entre as dimensões profana e sagrada é uma das principais marcas da festa.
Esse período festivo é também uma boa alternativa de renda extra para população local, muitos aproveitam para produzir as cabacinhas e comercializá-las. O preparo é simples: a parafina derretida é colocada numa fôrma de cabaça e enchida com água, depois é lacrada também com parafina, e está pronta para ser lançada em alguém, o custo médio fica entre 0,05$ e 0,030$. O local culminante da festa é na Praça da Igreja Matriz da Nossa Senhora da Saúde, onde os brincantes se reúnem em grupos para atirar uns aos outros as cabacinhas.
A festa essa ano contou ainda com a presença de varias atrações musicais que se apresentaram em um palco montado na praça, além de arrastões populares regidos por bandinhas e mini-trios pelas ruas da cidade, dando status de essa ter sido a maior festa das cabacinhas dos últimos anos.