Notas etnográficas sobre a 25ª lavagem da Conceição: cortejo e ritual
Vanessa Barreto Vasconcelos Garcez[1
O dia 8 de dezembro é marcado pelo sincretismo religioso na cidade de Aracaju, a data é rememorada anualmente por diferentes rituais festivos espalhados em algumas regiões da capital sergipana. Este dia é dedicado no calendário litúrgico católico a Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Aracaju; a santa representa bondade e pureza da Virgem Maria para os fiéis católicos. No sincretismo afro-católico Nossa Senhora da Conceição é sincretizada com o orixá Oxum. O orixá feminino Oxum é o símbolo da riqueza e da vaidade, representando também fertilidade e fecundidade para os adeptos das religiões afro-brasileiras.
Dentro das comemorações, cinco manifestações ritualísticas integram a programação da festa: a missa católica; o cortejo Afro; lavagem das escadarias da Catedral metropolitana; procissão católica; desfile do afoxé na Praia de Atalaia. A proposta deste texto é apresentar uma breve etnografia do cortejo afro e do ritual da lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana de Aracaju por representantes de alguns terreiros de Sergipe.
A lavagem da Conceição completou 25 anos de existência no dia 08 de dezembro de 2007. A lavagem é precedida por um cortejo afro que se forma com esse objetivo. A concentração dos organizadores e integrantes de alguns terreiros de Sergipe ocorre na Colina do Santo Antônio, localizada no bairro que recebe o mesmo nome do santo. Toda uma preparação ritual acontece antes do cortejo, o Andor de Nossa Senhora da Conceição é ornamentado com flores brancas e amarelas, cores-símbolo do orixá homenageado; há a distribuição de jarras com flores e água de cheiro que serão utilizadas na lavagem das escadarias da catedral. Ao longo desses anos a Ialorixá Maria Angélica de Oliveira esteve à frente da organização deste evento.
A saída do cortejo é anunciada através de fogos aproximadamente às 10h25min da manhã, e percorre o seguinte roteiro: colina do bairro Santo Antônio; Rua João Ribeiro; Rua Simeão Sobral, Avenida Rio Branco e Ivo do Prado, passando pela Praça Fausto Cardoso e chegando ao destino final, que é a Praça Teófilo Dantas, local onde se encontra a Catedral Metropolitana de Aracaju. No início do cortejo são distribuídas bandeirinhas com a imagem de Oxum, agitadas com alegria pelos integrantes do cortejo. A representação visual do Orixá ganha visibilidade; a curiosidade e o medo que envolvem as divindades afro-brasileiras, são por algumas horas colocadas em suspensão reconhecendo-se neste contexto ritualístico seus significados religioso e estético ( Santos, 2006) . Durante todo o percurso outras pessoas isoladamente ou em grupos somam-se ao cortejo.